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Menopausa, o que ela me ensinou




Em meados de 2017 eu recebi uma notícia que me apavorou: “ A endometriose está grave, você terá que retirar o ovário esquerdo!”

Até então eu pouco me lembrava que dentro de mim existiam ovários, mas com esse  veredicto eu passei a ficar obcecada com eles. Comecei a pesquisar tudo sobre ovários: (o que eram, para que serviam, o que sua ausência causava), entrei em grupos de estudo, li artigos científicos. Porém, em todo lugar que pesquisava existia uma assombração: MENOPAUSA. Eu não estava preparada para isso, era muiiiiittoooo cedo para eu entrar na menopausa. Após a cirurgia eu estaria, efetivamente, na menopausa.

Não haveria climatério, não teria período de adaptação... Era o meu fim! Menos colágeno e mais gordura. Menos cabelo e mais ruga.

Minha energia despencou. Eu abandonei o grupo de mulheres que participava, por me sentir menos mulher eu acreditei que aquele não era mais o meu lugar, parei com a atividade física que tanto me fazia bem e passei a recusar novos clientes. A sensação era de que o mundo não me cabia (ou aceitava), afinal me tornaria uma “não-mulher”.

Nós mulheres, sempre escutamos sobre a menopausa e os seus impactos na nossa vida, mas quando não é com a gente parece que estamos falando de um alienígena, algo completamente fora da nossa bolha própria.

Na primeira noite pós cirurgia comecei a sentir os calores noturnos, no dia seguinte os fogachos. Mas, os médicos disseram que eram passageiros e que eu tinha ainda um ovário, por isso eu NÃO ENTRARIA NA MENOPAUSA.

Fiz do meu ovário direito o meu melhor amigo... tomava litros de chá de amora, comia quilos de linhaça e consumia tudo o mais que me diziam que era bom para aumentar meu nível hormonal.

Com o tempo, eu passei a perceber no meu corpo e no meu humor todos os sinais de que estava na menopausa. Mas, sempre me fazia lembrar histericamente da fala dos médicos: “você tem o ovário direito”. Me apegando desesperadamente a ele, busquei qualquer todo o tipo de tratamento. Nenhum dos médicos que eu fui falou em menopausa... ufaaaa... que alívio. Mas, meu corpo sinalizava todos os dias o que eu insistia em não ver. Negueiiii mesmo...

Eu passei 4 anos assim... até que o fundo do poço chegou. Eu não tinha força para fazer nada, meu humor oscilava entre depressão e ansiedade. Mas, como os médicos diziam que não era menopausa ( e eu PRECISAVA acreditar nisso), eu procurei por um psiquiatra, um bem “bambambam”.

A primeira consulta com o psiquiatra durou umas 2 horas. Eu falei tudo... inclusive da cirurgia e como me sentia após a operação. Ele abriu o computador e me deu uma aula de transtorno de humor... mas não falou de menopausa (graças a Deus). Saí dali com uma receita para tomar lítio.

Comecei a usar a medicação e nada... só barranco abaixo.

Voltei para o retorno e sai dali com uma receita com a dosagem dobrada de lítio e umas outras medicações.

Aquela recomendação médica me abalou...afinal, eu sou psicóloga (lembrei disso nesse dia) e sei um pouco sobre transtorno de humor e o sobre lítio. Desenterrei meus livros de psicopatologia e fui estudar sobre transtorno de humor... passei a prestar mais nos sinais que o meu corpo e mente davam. Até que tive uma tive uma “iluminação”: “ Kênia, você não tem transtorno de humor, você está na menopausa!”

Me dizer isso me trouxe alívio e desespero, eu oscilei entre “é menopausa e eu vou buscar um tratamento adequado” e “EHHHHH MENOPAUSAAAAAA TÔ NO FIM DA VIDA”.

Cancelei o psiquiatra e  comecei a procurar um profissional que pudesse me ajudar.

Nessa busca, até achar a médica que me “salvou”, eu me senti desrespeitada e desvalidada... cheguei a escutar que tinha que me conformar porque “isso é coisa de mulher”.

Foram quase 5 anos de oscilação de humor, insegurança, medo, desânimo... tudo porque eu não considerei o meu saber sobre o meu corpo e minhas sensações... tudo porque eu coloquei o saber do outro acima do meu saber sobre eu mesma... tudo porque eu tinha um pré conceito sobre vida útil feminina.

Passada a tempestade, isso significa... em tratamento adequado, eu percebi que a menopausa me trouxe algumas lições:

·         Preste atenção no seu corpo.

·         Uma verdade incomoda é sempre melhor que uma mentira bonita.

·         Ninguém sabe mais de você do que você mesma.

·         Se o que o outro tem a lhe oferecer não é o suficiente, procure outra pessoa.

·         Não fique apenas com a primeira opinião.

·         Tenha um grupo de apoio seguro.

·         Busque bons profissionais.

·         Não seja conformada.

 

Não romantizo a menopausa... é isso mesmo: MENOS COLÁGENO E MAIS GORDURA. Mas, essa fase da vida, definitivamente, não é o fim da vida.

Hoje, graças ao acompanhamento médico, recuperei minha energia, meu humor, minha disposição.

Eu espero que a minha história te inspire a ficar mais atenta aos sinais que seu corpo lhe dá, não só com relação a menopausa... mas com relação a vida. Se for necessário, saia de lugares que te fazem mal, afaste-se de pessoas que lhe desrespeita... evite programas desagradáveis. Cuide-se, pois você é o seu bem maior.


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